A AIDA DE CONSTANTINA ARAÚJO NO RIO DE JANEIRO – MEIO SÉCULO.
Em 1950, não tendo sido escalada para a temporada lírica em São Paulo, Constantina Araújo tentou ser ouvida pelos responsáveis pela temporada do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Não conseguiu uma audição sequer.
Em entrevista concedida à Tribuna da Imprensa (15-10-1954), Constantina declarou:
O maestro Ruberti e Barreto Pinto, quando me apresentei, naquele ano (1950), para um este, nem se quiseram dar ao trabalho de me ouvir. Mandaram-me embora, simplesmente. Naquele tempo eu já era conhecida, pois havia atuado em São Paulo, no rádio , em concertos e na ópera, com bastante sucesso.
O que se seguiu já é publico, embarcou para a Itália em busca das oportunidades que em sua terra lhe eram negadas.
O êxito obtido em sua apresentação no papel-título de Aída, em Modena, abriu-lhe as portas de outros teatros italianos, inclusive do Scala, onde estreou em fevereiro de 1951.
Tornou-se uma das grandes intérpretes desse papel no curto espaço de sua carreira, fato esse reconhecido por todos os críticos e comentaristas europeus que a ouviram.
Os paulistas já tinham tido a oportunidade de vê-la nesse papel, na temporada de 1948.
No Rio de Janeiro, essa ocasião apresentou-se no encerramento da temporada de 1954, quando foram realizadas duas récitas de AIDA, tendo no elenco além de Constantina, Mario Del Monaco, Maria Henriques, Enzo Mascheri e Giuseppe Modesti.
Constantina estava no auge de sua carreira. Na ocasião, estava fazendo o papel Rezia, no Oberon , de Weber, na Ópera de Paris.
Os jornais cariocas registraram seu desempenho:
Diário de Notícias – Mário Cabral
Sabendo dominar um justificável nervosismo inicia, ela, já no monólogo que finaliza o primeiro quadro, mostrou magnífica escola vocal e uma excelente linha interpretativa. Sua voz é potente, sem estridências. Afinação,musicalidade, um timbre aveludado deram-lhe atributos artísticos que constituem o chamado bel canto.Quem assim se revela deve ser uma excelente intérprete da música de câmera, e é de se lamentar que, nessa rápida permanência, ela não nos possa proporcionar uma audição em concerto.
(...) Constantina Araújo, que no dueto final, O terra addio (...), manteve até o fim o alto nível artístico de sua interpretação.
JORNAL DO BRASIL
A voz é bela e de densidade e volume que lhe asseguram lugar entre os tão raros sopranos dramáticos da cena lírica atual. Boa técnica e quase sempre um fraseado justo. Por vezes – única ressalva – algum agudo um tanto fraco, e que se diria infantil, e alguma tremura ocasional na mesma tessitura. Fica isso registrado para ficar mais à vontade ainda para louvar essa artista, sem dúvida de plano internacional e não somente por ter cantado no estrangeiro. O Brasil faz, com ela, uma aquisição de verdadeira significação, que muito nos alegra.
Não me refiro somente à cantora: a atriz é também segura e graciosa, a apresentação extremamente simpática.
Foi aplaudida como devia, quer dizer com insistência e cordialidade.
CORREIO DA MANHÃ – EURICO NOGUEIRA FRANÇA
É Constantina Araújo um soprano dramático e uma intérprete da cena lírica de soberbas qualidades. Não direi que se trata de uma cantora perfeita,já, mas pouco lhe falta: seu registro grave se vela, ligeiramente, às vezes, em passagens rápidas; e de um modo geral pode ainda robustecer seus dons. Mais do que tudo isso, porém, a presença de Constantina Araújo, como cantora e atriz, é marcante, no palco. (...) e, depois a voz, de generoso timbre escuro no centro e no grave, límpida na região aguda, sempre bela e musicalmente utilizada, além de servira uma dicção impecável – criaram uma Ainda muito louvável, cuja arte vocal logo se desdobrou em L insana parola, do primeiro quadro.
DIÁRIO CARIOCA – ANTÔNIO BENTO (10/10/1954)
(...dominados os nervos, o soprano brasileiro deu uma prova irrecusável de seus dons artísticos fascinando a platéia pela sua bela interpretação da ária (O cielo azzurro) do 3º ato. Timbre quente, musicalidade, segurança e limpidez na emissão dos agudos, sua voz possui na verdade um encanto persuasivo. Seu jogo cênico também se fez notar , explicando a razão de seus triunfos no Scala de Milão ou na Ópera de Paris, onde o êxito é coisa rara.
DIÁRIO DE NOTÍCIAS – D’or (10/10/1954)
(.,.).
Sua voz é bonita e fácil. Pareceu-nos, todavia, algumas vezes trêmula, fato que, a princípio, levamos em conta de uma natural emoção.
Não cremos que ela seja um perfeito soprano-dramático. Os graves são escuros, mas no registro agudo as notas se fazem ouvir brancas e leves, impondo classificá-la como lírico-dramático. Talvez por isso, por lhe faltar uma cor vocal mais quente, seu canto nem sempre atinja a emoção desejada nos transes em que o papel se reveste de lancinante intensidade.
Sua primeira ária, cantada com expressão constituiu o ponto alto do seu desempenho, que nos demais atos decaiu de certa forma, aparentando a jovem artista um possível cansaço.
Seus agudos são bem emitidos, firmes e sustentados e uma apreciável igualdade se observa em seus vários registros, (...).
Em cena, deu-nos ela uma princesa etíope desembaraçada e senhora de si. E conquanto não chegasse aos extremos de uma teatralização convincente, soube, principalmente, impressionar pelo jogo da máscara, pela força do olhar, revelando a exaltação e a angústia de um amor recalcado e proibido.
Sua morte no subterrâneo, entre os braços de Radamés, teria tido, não duvidamos, uma interpretaçãomuito mais ajustada ao enredo se lhe fosse permitido abrandar o canto, debilitando a voz, como quem chegava ao fim totalmente depauperada.
Não lhe foi possível,porém, mobilizar esses recursos expressivos, contracenando com um tenor como Mario Del Monaco, incapaz, como mais uma vez provou, de usar, senão o pleno canto, as notas fortes e extensas, em que é mestre e com as quais conseguiu dominar o auditório.
O JORNAL – AYRES DE ANDRADE (10/10/1954)
(....) Constantina Araujo não decepcionou. Nenhuma cantora lírica brasileira, nestes últimos tempos, à exceção de Bidu Sayão, dispõe de um material artístico tão generoso, tão indicado a proporcionar à sua dona um renome internacional. A cantora possui voz extensa e brilhante: seu timbre cativa pela pureza: sua expressão denota o frescor peculiar ao intérprete ainda não contaminado pelos efeitos de habilidade profissional. Sua presença é atraente: seus gestos e atitudes têm a graça natural e insinuante da juventude. (...)..
Em 1950, não tendo sido escalada para a temporada lírica em São Paulo, Constantina Araújo tentou ser ouvida pelos responsáveis pela temporada do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Não conseguiu uma audição sequer.
Em entrevista concedida à Tribuna da Imprensa (15-10-1954), Constantina declarou:
O maestro Ruberti e Barreto Pinto, quando me apresentei, naquele ano (1950), para um este, nem se quiseram dar ao trabalho de me ouvir. Mandaram-me embora, simplesmente. Naquele tempo eu já era conhecida, pois havia atuado em São Paulo, no rádio , em concertos e na ópera, com bastante sucesso.
O que se seguiu já é publico, embarcou para a Itália em busca das oportunidades que em sua terra lhe eram negadas.
O êxito obtido em sua apresentação no papel-título de Aída, em Modena, abriu-lhe as portas de outros teatros italianos, inclusive do Scala, onde estreou em fevereiro de 1951.
Tornou-se uma das grandes intérpretes desse papel no curto espaço de sua carreira, fato esse reconhecido por todos os críticos e comentaristas europeus que a ouviram.
Os paulistas já tinham tido a oportunidade de vê-la nesse papel, na temporada de 1948.
No Rio de Janeiro, essa ocasião apresentou-se no encerramento da temporada de 1954, quando foram realizadas duas récitas de AIDA, tendo no elenco além de Constantina, Mario Del Monaco, Maria Henriques, Enzo Mascheri e Giuseppe Modesti.
Constantina estava no auge de sua carreira. Na ocasião, estava fazendo o papel Rezia, no Oberon , de Weber, na Ópera de Paris.
Os jornais cariocas registraram seu desempenho:
Diário de Notícias – Mário Cabral
Sabendo dominar um justificável nervosismo inicia, ela, já no monólogo que finaliza o primeiro quadro, mostrou magnífica escola vocal e uma excelente linha interpretativa. Sua voz é potente, sem estridências. Afinação,musicalidade, um timbre aveludado deram-lhe atributos artísticos que constituem o chamado bel canto.Quem assim se revela deve ser uma excelente intérprete da música de câmera, e é de se lamentar que, nessa rápida permanência, ela não nos possa proporcionar uma audição em concerto.
(...) Constantina Araújo, que no dueto final, O terra addio (...), manteve até o fim o alto nível artístico de sua interpretação.
JORNAL DO BRASIL
A voz é bela e de densidade e volume que lhe asseguram lugar entre os tão raros sopranos dramáticos da cena lírica atual. Boa técnica e quase sempre um fraseado justo. Por vezes – única ressalva – algum agudo um tanto fraco, e que se diria infantil, e alguma tremura ocasional na mesma tessitura. Fica isso registrado para ficar mais à vontade ainda para louvar essa artista, sem dúvida de plano internacional e não somente por ter cantado no estrangeiro. O Brasil faz, com ela, uma aquisição de verdadeira significação, que muito nos alegra.
Não me refiro somente à cantora: a atriz é também segura e graciosa, a apresentação extremamente simpática.
Foi aplaudida como devia, quer dizer com insistência e cordialidade.
CORREIO DA MANHÃ – EURICO NOGUEIRA FRANÇA
É Constantina Araújo um soprano dramático e uma intérprete da cena lírica de soberbas qualidades. Não direi que se trata de uma cantora perfeita,já, mas pouco lhe falta: seu registro grave se vela, ligeiramente, às vezes, em passagens rápidas; e de um modo geral pode ainda robustecer seus dons. Mais do que tudo isso, porém, a presença de Constantina Araújo, como cantora e atriz, é marcante, no palco. (...) e, depois a voz, de generoso timbre escuro no centro e no grave, límpida na região aguda, sempre bela e musicalmente utilizada, além de servira uma dicção impecável – criaram uma Ainda muito louvável, cuja arte vocal logo se desdobrou em L insana parola, do primeiro quadro.
DIÁRIO CARIOCA – ANTÔNIO BENTO (10/10/1954)
(...dominados os nervos, o soprano brasileiro deu uma prova irrecusável de seus dons artísticos fascinando a platéia pela sua bela interpretação da ária (O cielo azzurro) do 3º ato. Timbre quente, musicalidade, segurança e limpidez na emissão dos agudos, sua voz possui na verdade um encanto persuasivo. Seu jogo cênico também se fez notar , explicando a razão de seus triunfos no Scala de Milão ou na Ópera de Paris, onde o êxito é coisa rara.
DIÁRIO DE NOTÍCIAS – D’or (10/10/1954)
(.,.).
Sua voz é bonita e fácil. Pareceu-nos, todavia, algumas vezes trêmula, fato que, a princípio, levamos em conta de uma natural emoção.
Não cremos que ela seja um perfeito soprano-dramático. Os graves são escuros, mas no registro agudo as notas se fazem ouvir brancas e leves, impondo classificá-la como lírico-dramático. Talvez por isso, por lhe faltar uma cor vocal mais quente, seu canto nem sempre atinja a emoção desejada nos transes em que o papel se reveste de lancinante intensidade.
Sua primeira ária, cantada com expressão constituiu o ponto alto do seu desempenho, que nos demais atos decaiu de certa forma, aparentando a jovem artista um possível cansaço.
Seus agudos são bem emitidos, firmes e sustentados e uma apreciável igualdade se observa em seus vários registros, (...).
Em cena, deu-nos ela uma princesa etíope desembaraçada e senhora de si. E conquanto não chegasse aos extremos de uma teatralização convincente, soube, principalmente, impressionar pelo jogo da máscara, pela força do olhar, revelando a exaltação e a angústia de um amor recalcado e proibido.
Sua morte no subterrâneo, entre os braços de Radamés, teria tido, não duvidamos, uma interpretaçãomuito mais ajustada ao enredo se lhe fosse permitido abrandar o canto, debilitando a voz, como quem chegava ao fim totalmente depauperada.
Não lhe foi possível,porém, mobilizar esses recursos expressivos, contracenando com um tenor como Mario Del Monaco, incapaz, como mais uma vez provou, de usar, senão o pleno canto, as notas fortes e extensas, em que é mestre e com as quais conseguiu dominar o auditório.
O JORNAL – AYRES DE ANDRADE (10/10/1954)
(....) Constantina Araujo não decepcionou. Nenhuma cantora lírica brasileira, nestes últimos tempos, à exceção de Bidu Sayão, dispõe de um material artístico tão generoso, tão indicado a proporcionar à sua dona um renome internacional. A cantora possui voz extensa e brilhante: seu timbre cativa pela pureza: sua expressão denota o frescor peculiar ao intérprete ainda não contaminado pelos efeitos de habilidade profissional. Sua presença é atraente: seus gestos e atitudes têm a graça natural e insinuante da juventude. (...)..
Essa foi a última apresentação de Constantina Araújo, no Brasil.
No ano seguinte (1955), na reabertura do Teatro Municipal de São Paulo após reforma, foi escalada a soprano italiana Antonieta Stela para cantar em “Lo Schiavo”, ópera que integrava o repertório de Constantina.
A soprano faleceu em 1966.
No ano seguinte (1955), na reabertura do Teatro Municipal de São Paulo após reforma, foi escalada a soprano italiana Antonieta Stela para cantar em “Lo Schiavo”, ópera que integrava o repertório de Constantina.
A soprano faleceu em 1966.
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